quarta-feira, 4 de abril de 2012

Está Consumado! Com esse brado, nossa redenção foi assegurada

E.G.W. diz que “far-nos-ia bem passar diariamente uma hora a refletir sobre a vida de Jesus [...] especialmente as [cenas] finais” (O Desejado de Todas as Nações, p. 83). Aproveitando o espírito que marca o momento que a cristandade chama de “semana santa” façamos um breve retrospecto dos sofrimentos de Jesus, começando com Sua agonia no Getsêmani até expirar na cruz.

 

Suor e sangue no jardim

Na noite de quinta para sexta-feira, após instituir a Santa Ceia e antes de orar por Seus discípulos, Jesus lhes deu as últimas orientações, parte das quais já fora do cenáculo (ver Jo 14-17). Haveria de deixá-los para retornar ao Pai, mas não os abandonaria, pois lhes garantiu que o “outro Consolador” o Espírito Santo, viria para estar com eles “para sempre” para fortalecê-los, guiá-los e guardá-los (lo 14:16-18,26; 15:26,27; 16:7-15).
Dadas as instruções e feita a oração, seguiram “para o outro lado do ribeiro Cedrom, onde havia um jardim” (18:1). O caminho era conhecido, pois outras vezes o haviam percorrido. Mas algo novo e estranho se fazia presente dessa vez – o Mestre emudecera; nunca O tinham visto tão triste! Com passos indecisos, mais cambaleava que andava, à medida que se aproximavam do jardim (Ibid, p. 685, 686).
Deixando oito discípulos em determinado ponto, avançou um pouco mais com Pedro, Tiago e João. A certa altura, sumariou a dor que Lhe invadia o ser: A Minha alma está profundamente triste até a morte; ficai aqui e vigiai comigo” (Mt 26:38). Afastando-Se um pouco, caiu ao solo frio e úmido do jardim, deixando, com agonia intensificada, escapar dos vacilantes lábios uma súplica angustiosa: ”Meu Pai, se possível, passa de Mim este cálice!” (v. 39). Jesus assumia aí a culpa do pecado de toda a humanidade, com suas implicações.
Por duas vezes, Ele Se dirigiu aos discípulos em busca de conforto, mas os encontrou adormecidos. Aliás, o único discípulo que não dormiu naquela noite, pelo menos enquanto os demais dormiam, foi Judas. A dor da indiferença e da frustração acentuou a angústia de Jesus, e Ele Se prostrou pela terceira vez em súplica ao Pai, agora de maneira tão mais intensa que Seu suor se transformou em sangue! (Lc 22:44). Um anjo foi enviado (v. 43) para animá-Lo a ir até o fim, avivando-Lhe o glorioso resultado de Seu sacrifício.
Fortalecido, Jesus Se levantou e despertou os discípulos. Chegara o momento das trevas, e logo pressentiram as pisadas de uma turba invadindo o jardim e vindo para o lugar em que estavam. Jesus disse solenemente: “O Filho do homem está sendo entregue nas mãos de pecadores” (Mt 26:45).
Com espanto, os discípulos, à luz de archotes, reconheceram Judas à frente da turba. Viram-no aproximar-se do Mestre e beijá-Lo, enquanto Ele lhe dizia: “Judas, com um beijo trais o Filho do homem?” (Lc 22:48). Normalmente, um beijo expressa carinho, devotamente, afeto. Mas, por trás desse aparente afeto, um sombrio desígnio se escondia – a traição. Trinta moedas de prata dadas a judas o levaram a entregar Jesus àqueles que O odiavam. Imediatamente, Pedro reagiu brandindo uma espada (Jo 18:10,11). Mas Jesus Se rendeu à turba insana, e os discípulos, confusos e dominados pelo pânico, fugiram (Mc 14:50).

A farsa do julgamento

Passava de meia-noite quando Jesus foi levado, sob apupos e vaias, ao sumo sacerdote Anás para um pré-julgamento (Ibid.,p. 698). Que julgamento, se nem tinham de que O acusar? As testemunhas arranjadas mais se contradisseram do que depuseram (Mc 14:56-59). Em meio a essa trama, Jesus foi vítima das mais absurdas agressões: “os guardas O tomaram a bofetadas” (v. 65), cuspiam-Lhe no rosto, vendaram-Lhe os olhos e O esbofeteavam, interpelando: “Profetiza-nos, ó Cristo, quem é que Te bateu!” (Mt 26:67,68).
Três vezes Pedro O negou. Impressionante! Pedro, que conhecia a Cristo tão bem, negou conhecê-Lo; as falsas testemunhas que mal O conheciam, afirmaram conhecê-Lo. Por estranho que pareça, a verdade em todo aquele “processo” foi dita por um pagão, o pusilânime Pilatos. ”Não acho nEle crime algum” afirmou mais de uma vez (Jo 18:38; 19:4); todavia, por amor à posição (v. 12), condenou-O.
A partir daí, uma série de agressões ainda mais atrozes foi aplicada a Jesus. Ele não havia dormido naquela noite; encontrava-Se em jejum, e começou a perder sangue mesmo antes de chegar à cruz. Os romanos açoitavam um réu condenado e o fizeram com Jesus tão logo terminou a farsa do Seu julgamento. Na verdade, Ele já havia sido açoitado antes, naquela instância em que Pilatos, no empenho de absolver um réu reconhecidamente inocente, propôs açoitá-Lo para então O soltar (Lc 23:16,22; Jo 19:1).
Esse castigo era infligido com o flagrum, um chicote com tiras de couro, crivadas com pedaços de osso ou metal. As pontas afiadas dessas tiras eram chamadas “escorpião” pelo efeito que causavam. Despida até a cintura e atada a um poste baixo, a vítima se postava arqueada para certeiros golpes aplicados com rigor. Esse ato era considerado o prelúdio da crucifixão.
De início, a pele sangrava e logo se retalhava, com a carne lacerando-se. Há informações de pessoas açoitadas a ponto de veias, tendões e até entranhas ficarem expostos! De Cristo, Isaías disse: “Ofereci as costas aos que Me feriam [...] não escondi o rosto dos que Me afrontavam e cuspiam” (v. 50:6). Geralmente falamos da transfiguração de Jesus; mas aquele foi o dia da Sua desfiguração.

Agonia do Calvário

Com uma coroa de espinhos pressionada na cabeça, e envolto num manto de púrpura, Jesus foi intimado a carregar a cruz até o local da execução. Não reunia condições físicas para tanto, de forma que os soldados ordenaram a Simão Cirineu que o fizesse (Mt 27:32). Jesus, então, despido, deitou-Se sobre a cruz e foi pregado nela.
De acordo com algumas descobertas arqueológicas mais ou menos recentes, sabe-se que os cravos poderiam ser introduzidos no pulso do condenado, na área chamada espaço de Destot, para impedir que o corpo tombasse. Um cravo aí enterrado atinge o nervo médio que serve a todos os nervos sensoriais da mão e causa a mais intensa dor. Como o evangelho nos informa que Jesus teve as mãos traspassadas (ver lo 20:25, 27), é de supor que Ele foi crucificado nelas e nos pulsos.
Em seguida, dobraram parcialmente os joelhos de Jesus, sobrepuseram Seus pés um ao outro, e os pregaram com um longo cravo sobre um rebordo na parte inferior da haste vertical da cruz. Estando Jesus devidamente fixado nela, levantaram-na e a atiraram para dentro da fenda preparada para firmá-la. “Isso produziu a mais intensa agonia ao Filho de Deus” (Ibid, p. 745).
Além do sofrimento causado pelas feridas e pela incômoda posição, Jesus deve ter suportado violenta dor de cabeça em conseqüência da sobrecarga de sangue nas artérias do estômago e da cabeça. Febre traumática, acompanhada de forte sede (Jo 19:28), contribuiu significativamente para aumentar Sua tortura.
Então, compreendendo que o derradeiro momento se aproximava, Ele bradou: “Está consumado!” (v. 30), em alusão à natureza de Sua morte. Seis pontos exigem atenção:
1. Sua morte foi voluntária, como havia declarado algum tempo antes da cruz (ver Jo 10:18). Aprisionado, deixou claro ao impulsivo Pedro, que tentara livrá-Lo com a espada, que, se desejasse livramento, Deus mesmo agiria: Acaso, pensas que não posso rogar a Meu Pai, e Ele Me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos?” (Mt 26:53). Normalmente, uma legião reunia um contingente de seis mil soldados; ”mais de doze” significa uma multidão de anjos. Doze foi referido por ser o número dos apóstolos – “uma legião em lugar de cada um dos discípulos” (Ibid, p. 696).
2. Sua morte não foi acidental. Ele Se referiu a ela durante Seu ministério, e de como haveria de morrer. Os eventos foram ocorrendo até culminarem com a crucifixão.
3. Sua morte não foi a de um criminoso, embora tivesse sido condenado por um tribunal. As testemunhas arroladas contra Ele não foram coerentes; Pilatos reconheceu Sua inocência, e tentou absolvê-Lo.
4. Sua morte não foi meramente exemplar. Se fosse assim, ela teria valor relativo. A História está repleta de condenações injustas que levaram inocentes a morrer briosamente em meio a sofrimento. Teria sido apenas mais um a morrer assim.
5. Sua morte não foi a de um mártir, embora sob circunstâncias próprias do martírio. Em geral, os mártires enfrentam a morte com galhardia e sentimentos de superação. Não foi assim com Jesus, que disse ter a alma angustiada, e que bradou na cruz: “Meu Deus, Meu Deus, por que Me desamparaste?” (Mt 27:46). Sua morte se reveste de significado maior.
6. Sua morte foi um sacrifício expiatório e vicário. Ele morreu por nossos pecados e em nosso lugar, Jesus deu a vida “como oferta pelo pecado. [...] Ele foi traspassado pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniquidades. [...] O Senhor fez cair sobre Ele a iniqüidade de nós todos. [...]” (Is 53:10,5,6). Todos nós estivemos lá naquela sexta-feira; todos nós O crucificamos.
Fomos nós que causamos Sua angústia no jardim. Por nossa causa, Ele suou gotas de sangue e teve o coração quebrantado, razão de Sua morte prematura na cruz. Assim, não foram exatamente os maus tratos, o açoite, a própria crucifixão, que mais fizeram Jesus sofrer, mas principalmente o peso dos nossos pecados. Assumir nossa terrível condenação O levou àquela angústia sem limites. O Calvário é mais que uma história sobre romanos, judeus, julgamentos, acusações e cruzes. Em última análise, é a história daquilo que os nossos pecados causaram a Cristo! A partir do Getsêmani, Ele amargou a conseqüência última da iniqüidade: separação de Deus, implicando agonia mental tão intensa “que Ele mal sentia a dor física” (Ibid, p. 753).

Conclusão

“Está consumado!” Esse brado foi dirigido ao Pai. O sentido era: A obra que Me deste a fazer está feita. Cumprido está o plano da redenção. Teu caráter está vindicado, o pecado do homem expiado, e a salvação do perdido assegurada.”
Foi um brado de vitória que sacudiu todo o Universo. Satanás foi desmascarado e vencido. Sua erradicação é agora apenas uma questão de tempo. Por amor a você e a mim, o Senhor consentiu e aceitou passar por tudo isso. Foram as palavras mais poderosas e mais abarcantes que lábios humanos proferiram. A expiação por um mundo perdido devia ser plena, abundante, completa” (Ibid, p. 566); e foi, pois através daquele brado, os portais do Céu se escancararam para quem quiser entrar. Jesus nos comprou com Seu sangue e a Ele pertencemos.
“Pesa sobre todos a culpa de crucificar o Filho de Deus. A todos é gratuitamente oferecido o perdão” (Ibid, p. 745). Haveria de ter sido inútil para nós essa singular manifestação do amor divino? Não é este o momento para também dizermos ”está consumado”? Isto é, “dou por definitivamente consumada minha entrega a Jesus, devolvendo a Ele o que, por direito, já é Seu”? Somente assim ser-Lhe-á efetivada a posse total de nosso ser.
“Filho Meu, dá-Me o teu coração” (Pv 23:26).
Texto de autoria de José Carlos Ramos, professor de Apocalipse, no UNASP, Eng.Coelho – SP. Publicado na Revista Adventista de Março/2008.

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