quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Por que duvidam da evolução?

No dia 22 de janeiro, a Folha de S. Paulo publicou um artigo do físico Marcelo Gleiser, intitulado "Por que duvidam da evolução?". Gleiser começa apresentando dados de uma pesquisa do Gallup segundo a qual apenas 39% dos americanos "acreditam na teoria da evolução". Em seguida, ele afirma: "Quanto mais crente, maior a desconfiança em relação à teoria de Darwin." Mas o contrário também é verdadeiro: quanto mais ateu, maior a aceitação do darwinismo como fato, possivelmente porque o darwinismo (se corretamente compreendido) se trata de uma teoria naturalista ateia - mesmo que alguns religiosos tentem se convencer do contrário, ou seja, de que seria possível hibridizar evolucionismo com a Bíblia. Criacionistas bem informados não têm receio de ler a vasta literatura evolucionista e ateia disponível no mercado; curiosamente, são poucos os evolucionistas com quem tenho conversado que admitem ter lido um ou dois bons livros criacionistas. A verdade não precisa temer o confronto e o pesquisador sincero deve estar disposto a seguir as evidências levem aonde levar.
Gleiser continua argumentando: "Por outro lado, a evidência em favor da evolução também é indiscutível. Ela está no registro fóssil, datado usando a emissão de partículas de núcleos atômicos radioativos." Verdade? O registro fóssil mostra que as inúmeras formas transicionais que deveriam existir simplesmente não existem; mostra também que a vida simplesmente "explode" com toda a sua complexidade no chamado período Cambriano; e mostra que a superposição de camadas se deu de maneira rápida e catastrófica, já que os extratos geológicos são plano-paralelos sem evidência na área de contato entre eles de erosão ou exposição às intempéries.
"Rochas de erupções vulcânicas (ígneas) enterradas perto de um fóssil contêm material radioativo", prossegue o físico. "O mais comum é o urânio-235, que decai em chumbo-207." Mas por que Gleiser não se pergunta: Por que datar um fóssil a partir de uma rocha vulcânica enterrada com ele? Quem disse que a tal rocha tem a mesma idade do fóssil? E quem disse que o processo de decaimento do urânio-235 até o chumbo-207 se deu de maneira constante no tempo, intocado, de tal forma que possamos assumir que a taxa de decaimento nunca variou? Quem disse que podemos confiar nas estimativas com respeito às quantidades dos elementos pai e filho na amostra de rocha? E a atividade vulcânica, não teria promovido alterações nos relógios radioativos? "Por que duvidam da evolução?", pergunta o título do artigo; por esse e outros muitos motivos.
Mas os clichês evolucionistas não terminam aí e Gleiser desta vez enverada pela biologia: "A evidência em favor da evolução aparece também na resistência que bactérias podem desenvolver contra antibióticos." Mais uma vez esse argumento das bactérias... "Por que duvidar da evolução?", pergunta Gleiser; porque seus defensores vivem trombeteando exemplos de microevolução - aceitos pelos criacionistas - como se fossem exemplo de macroevolução; porque os evolucionistas acreditam que uma baleia evoluir de uma ameba é a mesma coisa que uma bactéria adquirir resistência a antibióticos, muito embora continue sendo bactéria.
"Quanto mais se usam antibióticos, maior a chance de que mutações gerem bactérias resistentes [e é só isso, Gleiser]. Esse tipo de adaptação por pressão seletiva pode ser investigado no laboratório, sujeitando populações de bactérias a certas drogas e monitorando modificações no seu código genético." Perfeito, e o mesmo tipo de investigação vem sendo feita há cem anos com as drosophila. Resultado? Clique aqui para conferir. Resumo da ópera: mutações promovem modificação ou perda de informação. Não se conhece um processo natural que traga à existência, do nada, informação complexa e específica necessária para a existência de vida, mesmo a mais "simples".
Então Gleiser volta à pergunta do artigo: "Pergunto-me por que a evolução causa tanto problema para tanta gente. Será que é tão ofensivo assim termos tido um ancestral em comum com outros primatas, como os chimpanzés?" Note como é típico este argumento evolucionista: as pedras parecem ter milhões de anos; as bactérias adquirem resistência a antibióticos; portanto, somos descendentes de um ancestral comum dos macacos e humanos (ancestral esse totalmente hipotético); isso é que é argumento non sequitur, mas o físico parece não perceber.
"Por que a evolução causa tanto problema para tanta gente"? Bem, na verdade, causa problema para aqueles que têm coragem de duvidar dela; para aqueles que, embora sejam chamados de "crentes", resistem a crer numa teoria cuja fundamentação teórica é a filosofia naturalista, essa, sim, impossível de ser submetida ao método científico; causa problema para aqueles que pensam que a sociedade é democrática e que temos liberdade de expressão e, por isso, decidem manifestar sua discordância do establishment científico/educacional/político.
Então vem a comparação descabida: "Essa desconfiança do conhecimento científico é muito estranha, dada a nossa dependência dele no século 21. (De onde vêm os antibióticos e iPhones?)" Com todo respeito, mas isso é jogo sujo! Como Gleiser pode misturar tecnologias desenvolvidas por seres inteligentes e as hipóteses macroevolutivas naturalistas da biologia evolucionista? O que iPhones têm a ver com o suposto ancestral comum e com fósseis interpretados sob a lente darwinista?! Criacionistas não desconfiam do conhecimento científico - como Gleiser tenta induzir. Desconfiam, sim, de hipóteses metafísicas que tentam se passar por ciência experimental. Isaac Newton, Galileu Galilei e outros grandes cientistas do passado ajudaram a criar o método científico e não precisaram da evolução para fazer boa ciência. Agora quem pergunta sou eu: Por que endeusar essa hipótese e ficar tão chocado com aqueles que querem submetê-la à crítica? Não é exatamente assim que a ciência avança?
"O problema parece estar ligado ao Deus-dos-Vãos, a noção de que quanto mais aprendemos sobre o mundo, menos Deus é necessário [clique aqui para ler uma parábola relacionada com essa ideia]. Os que interpretam a Bíblia literalmente [lá vem o físico dizer como se deve interpretar a Bíblia...] veem nisso uma perda de rumo. Se Deus não criou Adão e Eva e se não nos tornamos mortais após a ‘queda do Paraíso', como lidar com a morte? Uma teologia que insiste em contrapor a fé ao conhecimento científico só leva a um maior obscurantismo. Mesmo que não acredite em Deus [deu para perceber], imagino que existam outras formas de encontrar Deus ou outros caminhos em busca de uma espiritualidade maior na vida."
Termino parafraseando o que Gleiser disse no parágrafo anterior: uma teoria que insiste em contrapor a filosofia naturalista (que posa de método e confunde tecnologia com ciência) ao conhecimento científico só leva a um maior obscurantismo. E querem saber, Gleiser e Folha? Cada vez que leio um texto como esse duvido ainda mais da evolução.

Autor: Michelson Borges

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