A Bíblia não dá mais detalhes sobre a rainha de Sabá, o Alcorão também faz alguma referência sem acrescentar mais nada, e a lenda diz que ela chegou a se envolver romanticamente com Salomão, e ao retornar para seu país teria tido um filho dele, dos quais seriam descendentes os atuais judeus etíopes. Inclusive a célebre dinastia de imperadores etíopes (propositalmente chamada de “salomônica”), cujo último imperador foi Hailé Selassié (1892-1975), invocava essa ancestralidade judaica. Curiosamente, o nome de batismo de Selassié era Tafari Makonnen, e era conhecido como “Ras” (“príncipe”) Tafari. Qualquer semelhança com o movimento rastafári de Bob Marley não é mera coincidência, se é que você está se perguntando isso agora. Selassié foi venerado como o “Leão de Judá” e a “Raiz de Davi” do século XX, o Jah (aquele da Tribo de Jah). Como você já deve ter desconfiado, Hailé Selassié (que significa “O Poder da Trindade” em etíope) é tido pelo movimento rastafári como o Messias prometido, o Jesus Cristo encarnado. Pelo menos isso deve ter inspirado os jamaicanos a comporem bons reggaes.
Pois bem, deixando essas curiosidades histórico-musicais ao abrigo da fumaça jamaicana, imagina-se que o território do antigo reino de Sabá equivaleria modernamente à região ocupada por Etiópia, Eritreia, Somália e Iêmen. Por muito tempo, se pensava que era apenas um reino mítico, que desafiava a historicidade bíblica, já que havia pouquíssimas evidências (além da tradição oral etíope) que comprovassem cabalmente que o relato do Velho Testamento corresponde, de alguma maneira, à verdade dos fatos de 3.000 anos atrás. Parece que essa dúvida está chegando ao fim e – se a descoberta for realmente confirmada – os céticos terão que engolir em seco mais esse atestado arqueológico de veracidade bíblica. É que o British Museum está patrocinando a escavação do platô de Gheralta, no norte da Etiópia, e a arqueóloga que comanda a expedição, Louise Schofield (foto), informa em matéria publicada ontem, 12/02/12, pelo jornal britânico The Guardian, que os esforços da equipe finalmente descobriram uma enorme e antiga mina de ouro, ao lado das ruínas de um templo e das marcas de um campo de batalha.
Diz a arqueóloga: “uma das coisas que eu sempre adorei na arqueologia é a maneira com que ela pode se vincular com lendas e mitos. O fato de que nós podemos ter encontrado as minas da rainha de Sabá é algo extraordinário”. Tudo começou com uma “estela”, uma rocha em formato de cubo com pouco mais de 6 metros de altura, esculpida com um sol e uma lua crescente, “que representavam o selo do reino de Sabá”, segundo Schofield. Ela se engatinhou por baixo da rocha, com medo de uma cobra enorme que lhe avisaram que vivia ali, e ficou cara a cara com uma antiga inscrição no idioma que o povo de Sabá falava. Ali perto foram encontradas partes de colunas e pedras talhadas de um templo enterrado na areia, que parece ter sido dedicado à deusa Lua, que era a principal divindade de Sabá no séc. VIII a. C., em razão de uma vitória obtida numa batalha a poucos metros dali.
Ainda que algumas pessoas do local até hoje procurem esporadicamente por ouro naquela região, ninguém nunca percebeu que havia uma mina de ouro (arqueológico, pelo menos) embaixo de alguns metros de terra. Talvez o que assustasse os garimpeiros fosse o fato de que muitos urubus ficavam exatamente em cima desse monte, como que guardando uma história ancestral. Ainda não é possível se dizer o tamanho exato da mina, apenas se imagina que ela seja gigantesca, dadas as características de seu portal, e uma escavação muito mais aprofundada será iniciada em breve, se houver recursos que a financiem. Parece que finalmente descobriram onde ficavam as lendárias minas do Rei Salomão.